‘Twinless’: A Comédia Melancólica que Explora a Perda e a Obsessão

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O novo filme do jovem argumentista, realizador e ator James Sweeney, intitulado “Twinless”, afirma-se como uma das propostas mais inquietantes e originais do cinema independente recente. Representando uma clara evolução face ao seu trabalho anterior, “Straight Up” (2019), Sweeney aprofunda a sua exploração da solidão através de uma comédia sombria de diálogos rápidos. Se no primeiro filme o protagonista era um homem gay que, farto de estar sozinho, decidia “voltar para o armário”, em “Twinless” o protagonista, igualmente gay e solitário, torna-se um stalker.

Uma Premissa Inusitada

A história começa quando Roman (interpretado por Dylan O’Brien) participa pela primeira vez num grupo de apoio para pessoas que perderam recentemente um irmão gémeo. Fica imediatamente surpreendido quando a moderadora do grupo sugere que cada um partilhe o seu nome e “uma coisa de que não sente falta no seu gémeo”. O riso nervoso que se instala na sala é rapidamente desfeito pela revelação de que se trata de uma piada. Afinal, seria inapropriado, ainda que catártico, falar mal de um irmão falecido. É este tom, entre o irreverente e o estranhamente comovente, que define toda a narrativa de “Twinless”.

Uma Amizade Nascida no Luto

É neste grupo de apoio que Roman conhece Dennis (interpretado pelo próprio James Sweeney). A ligação entre os dois é imediata e a dor mútua serve de alicerce para uma amizade profunda. Encontram consolo um no outro, partilhando atividades quotidianas como ir às compras, comer piza ou jogar videojogos, enquanto processam o seu luto. As suas personalidades contrastam: Dennis é gay, intelectual e de natureza mais caseira; Roman é heterossexual, um desportista simpático e propenso a cometer erros linguísticos (malapropismos). No entanto, esta amizade parece ser curativa para ambos, especialmente quando Dennis apresenta Roman à sua colega de trabalho, Marcy (Aisling Franciosi).

O Segredo Sombrio por Trás da Amizade

É impossível analisar “Twinless” em profundidade sem revelar uma reviravolta crucial que ocorre no início do filme. Aviso: o parágrafo seguinte contém spoilers significativos. A verdade é que a presença de Dennis no grupo de apoio não é uma coincidência. Ele não perdeu um gémeo; na verdade, ele conhecia o irmão de Roman, Rocky. A sua aproximação a Roman é o resultado de uma obsessão sexual, ou talvez romântica, nascida de uma profunda solidão, após um encontro casual com Rocky. Dennis estava presente, como um perseguidor, no momento em que Rocky morreu atropelado por um autocarro, e seguiu Roman até ao grupo de apoio. Esta amizade, aparentemente bela e significativa, está, portanto, construída sobre uma base de mentiras e um comportamento profundamente perturbador.

Apesar deste toque de estranheza Hitchcockiana, “Twinless” não é um thriller. O filme posiciona-se algures entre a comédia negra e a tragédia confrangedora. À medida que conhecemos melhor Dennis, a personagem torna-se cada vez mais patética, alguém mergulhado não só nas suas próprias mentiras, mas também em traumas que nunca tentou superar.

A Palavra do Realizador

Numa entrevista, a complexidade do filme tornou-se ainda mais evidente quando o entrevistador, ele próprio um gémeo idêntico e gay, se apresentou a James Sweeney. O realizador admite ter um fascínio por gémeos desde a infância, influenciado por figuras como as gémeas Olsen e os seus livros de detetives. “Sempre tive aquela fantasia, comum na minha geração, de ter um gémeo perdido que encontramos por acaso numa floresta”, confessou. Este interesse foi aprofundado pelos seus estudos em psicologia na universidade, onde os gémeos são frequentemente objeto de estudo sobre identidade e desenvolvimento. Contudo, a ligação mais pessoal vem de uma experiência sua: “E depois, também namorei com um gémeo idêntico”, revela. Esta vivência conferiu-lhe uma perspetiva única que, sem dúvida, enriqueceu a complexidade do argumento.

Desempenhos e Reconhecimento

Um dos maiores trunfos do filme é a extraordinária atuação de Dylan O’Brien, que interpreta ambos os irmãos gémeos, Roman e Rocky, com uma agilidade notável. O seu desempenho foi reconhecido com um Prémio Especial do Júri no Festival de Cinema de Sundance, onde o filme também arrecadou o Prémio do Público, tornando-se um dos mais comentados do festival. O’Brien, que se destacou em franchises como Teen Wolf e The Maze Runner, consolida-se aqui como um dos atores mais interessantes da sua geração, com projetos recentes como Ponyboi e Saturday Night.

Apesar dos seus méritos, o filme não está isento de críticas. Alguns espectadores poderão sentir-se distraídos pela questão de saber se alguém agiria realmente como as personagens. Por vezes, o tom peculiar e estilizado da obra corre o risco de desviar a atenção do seu poderoso núcleo emocional. Ainda assim, “Twinless” é uma obra corajosa e memorável que desafia o espectador a confrontar as facetas mais sombrias da solidão e da necessidade humana de ligação.