“Weapons”: O Sucesso Inesperado que Desafia o Género de Terror

O mais recente filme de Zach Cregger, “Weapons”, está a revelar-se um fenómeno de bilheteira, superando as expectativas e redefinindo o sucesso para filmes de terror independentes. Combinando uma performance comercial impressionante com uma narrativa complexa e perturbadora, o filme está a captar a atenção tanto do público como da crítica, provando que há um forte apetite por histórias que fogem ao convencional.
Um Desempenho de Bilheteira Histórico
As notícias sobre o sucesso de “Weapons” não são apenas sobre o fim de semana de estreia. O verdadeiro destaque surgiu na segunda-feira, dia 11 de agosto, um dia tipicamente mais fraco para as bilheteiras. Segundo a Deadline, o filme arrecadou uns impressionantes $5.2 milhões, estabelecendo um novo recorde para a melhor segunda-feira de agosto na história do cinema de terror. Este feito destrona clássicos como “O Sexto Sentido”, que detinha o recorde com $4.35 milhões, e “Annabelle: A Criação”, com $3.6 milhões.
Ao analisar os dados, a performance de “Weapons” torna-se ainda mais notável. Os seus números de início de semana superam os de alguns dos maiores sucessos de terror recentes. Filmes aclamados como “Foge” (2017), o recente “28 Anos Depois” e até o sucesso de bilheteira da Geração Z, “Five Nights at Freddy’s”, tiveram quedas pós-fim de semana mais acentuadas do que a nova aposta da equipa por trás de “Barbarian”. No entanto, apesar destes números admiráveis, “Weapons” ainda fica aquém do filme de terror do ano, “Sinners” de Ryan Coogler, que na sua primeira segunda-feira acumulou $7.8 milhões.
Uma Comunidade Fictícia sob o Microscópio
A força motriz por trás deste sucesso comercial é uma premissa inquietante que reflete a sociedade contemporânea. O filme decorre na cidade fictícia de Maybrook, em Illinois, e coloca uma questão central: o que faria uma comunidade se, numa madrugada, 17 crianças desaparecessem das suas casas às 2:17 da manhã, sem deixar rasto? “Weapons” pinta o retrato de uma cidade abalada por este mistério.
“É curioso, porque isto nem sequer é um filme de terror puro”, comentou a atriz Julia Garner. “Tem elementos de comédia e elementos de terror, mas, de certa forma, é um género em si mesmo.”
Segundo o realizador Zach Cregger, as reações da cidade à tragédia foram intencionalmente concebidas para parecerem estranhamente realistas. Os pais, indignados, invadem as reuniões da câmara municipal, exigindo respostas da polícia, da escola e, de forma mais incisiva, da professora dos alunos. Contudo, numa cena em que a personagem de Garner é atacada em plena luz do dia, os transeuntes e lojistas mal reagem. Cregger afirma que este nível de indiferença é tão realista quanto a fúria dos pais. “Vivemos numa cultura do ‘bem, o problema não é meu’ quando o caos acontece, porque o vemos tanto na televisão que nos tornámos capazes de o ignorar, mesmo quando está a acontecer à nossa frente”, explicou.
Personagens Imperfeitos e uma Profundidade Inesperada
O que parece ter cativado tanto os atores como o público é a complexidade das suas personagens. Josh Brolin, com uma carreira que abrange desde o clássico de 1985, “Os Goonies”, até ao universo da Marvel, admitiu ter hesitado inicialmente. Sendo pai de quatro filhos, a ideia de enfrentar o seu pior pesadelo — perder um filho — “não era algo que me apetecesse levar para o trabalho”, disse.
No entanto, a profundidade do guião convenceu-o. Brolin sentiu que “Weapons” conferia ao género de terror, muitas vezes tratado como superficial, “profundidade, humor e absurdo”. Isto, aliado ao facto de a sua filha adulta ser fã de “Barbarian”, foi suficiente para o fazer aceitar o papel. O filme ridiculariza subtilmente a vida suburbana, onde o horror e a violência ocorrem sob o olhar de vizinhos cuscos, departamentos de polícia corruptos e relações em crise.
Cada personagem que impulsiona a trama é tão falhada quanto vítima da tragédia. Gandy, a professora, é assediada pelos pais dos alunos desaparecidos enquanto luta secretamente contra o alcoolismo. Archer, o pai destroçado, está a falhar no trabalho e no casamento enquanto lida com a ausência do filho. Paul Morgan, interpretado por Alden Ehrenreich, é um polícia local com os seus próprios segredos.
“Cada personagem é percecionada de uma certa forma e, depois, cada personagem quebra”, refletiu Brolin. “Tudo se resume a esta questão fundamental: e se perdesses aquilo que mais valorizas? Como lidarias com isso?”
Para Ehrenreich, conhecido por papéis em dramas e como o jovem Han Solo, “Weapons” ofereceu um ritmo diferente, mas não foi o terror que o atraiu. Pelo contrário, ficou cativado pela estranheza e profundidade do filme. “A ressonância estranha, a narração inicial invulgar, a forma como estava escrito e a espécie de fragilidade emocional destas personagens, senti que a profundidade da escrita era tão grande como a de qualquer drama que li nos últimos anos”, afirmou Ehrenreich.